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A Doença de Peyronie é uma condição médica que afeta o tecido do pênis, levando ao desenvolvimento de placas fibrosas ou nódulos no tecido peniano. Essas placas podem causar curvatura, deformidade, encurtamento ou estreitamento do pênis, e frequentemente estão associadas a dor durante ereções ou atividade sexual. A condição foi nomeada após François Gigot de la Peyronie, o médico francês que a descreveu pela primeira vez no século 18.
Os sintomas da Doença de Peyronie podem variar significativamente de um indivíduo para outro. Em alguns casos, a curvatura do pênis é leve e não interfere significativamente com a função sexual ou causa dor. No entanto, em outros casos, a curvatura pode ser severa, causando dor substancial e dificuldades durante a relação sexual, o que pode levar a problemas psicológicos e emocionais, como ansiedade e depressão. Além da curvatura e da dor, outros sintomas podem incluir a presença de uma massa palpável, diminuição da flexibilidade do pênis e, em alguns casos, disfunção erétil.
Ao final do texto assista ao vídeo com o que há de mais novo no condução de pacientes com Doença de Peyronie – Abordagem S.T.E.P.
A etiologia da Doença de Peyronie ainda não é completamente entendida, mas acredita-se que a condição possa surgir como resultado de traumas ou lesões no pênis. Esses traumas podem ocorrer durante atividades sexuais vigorosas, acidentes esportivos ou como resultado de procedimentos médicos. A teoria predominante sugere que o trauma causa pequenas rupturas no tecido do pênis, que não se curam adequadamente, levando à formação de tecido fibroso. Além disso, fatores genéticos podem desempenhar um papel, pois a condição parece ser mais comum em certas famílias.
O diagnóstico da Doença de Peyronie geralmente é realizado através de um exame físico, durante o qual o médico pode sentir as placas fibrosas no pênis. Em alguns casos, podem ser necessários exames de imagem, como ultrassonografia ou ressonância magnética, para avaliar a extensão da fibrose e a presença de calcificações.
Antigamente considerada uma condição rara, atualmente a Doença de Peyronie possui prevalência relatada superior a 13% dos homens adultos em alguns países do mundo.
O tratamento da Doença de Peyronie varia de acordo com a severidade dos sintomas e o estágio da doença. Nos estágios iniciais, quando a doença ainda está evoluindo, o tratamento pode ser conservador, focando na gestão da dor e na tentativa de minimizar a progressão da curvatura. Isso pode incluir o uso de medicamentos anti-inflamatórios ou injeções diretamente nas placas fibrosas para tentar dissolvê-las. Em casos mais avançados ou quando a deformidade e a dor são significativas, pode ser considerada a intervenção cirúrgica. A cirurgia pode envolver a remoção das placas fibrosas ou procedimentos para corrigir a curvatura do pênis.
É importante que os homens que suspeitam ter a Doença de Peyronie procurem orientação médica para uma avaliação adequada e discussão das opções de tratamento. Embora a condição possa ser desafiadora e impactar significativamente a qualidade de vida, existem várias abordagens terapêuticas que podem ajudar a gerenciar os sintomas e melhorar as funções sexuais. A pesquisa continua a avançar na compreensão dessa complexa condição, prometendo novas possibilidades de tratamento no futuro.
Consequências da Doença de Peyronie (DP)
Além dos sintomas físicos, que limitam a atividade sexual, a DP pode causar significante estresse psicossocial nos homens e suas parceiras com sentimentos fortes de culpa, vergonha e recolhimento presentes em até 80% dos casos. Esses sentimentos podem persistir com a progressão da doença e nesse momento 48% dos pacientes podem relatar sintomas de depressão.
Apenas recentemente o impacto psicossocial da DP foi validada em estudos científicos, antes disso essas condições associadas eram desconhecidas ou apenas intuídas pelos urologistas especializados em Peyronie.
Porque a DP surge? O que posso atuar para melhorar?
O que sabemos é que sua etiologia é multifatorial e não completamente conhecida. A teoria mais conhecida relaciona trauma dos corpos cavernosos à doença. Assim, lesões penianas agudas e intensas ou microtraumas repetidos durante a relação sexual poderiam desencadear a DP.
Trauma agudo ou microtraumas |
Trauma após procedimentos urológicos – cistoscopias, cirurgias da próstata |
Histórico de uretrites (gonorreia) |
Histórico de Doenças Inflamatórias ou Doenças Inflamatórias Pélvicas da Parceira |
Tabagismo |
Hipogonadismo (baixos níveis de testosterona) |
Doenças Auto-Imunes |
Doenças Cardiovasculares (?) Diabetes(?) |
Alcoolismo |
Doença de Ledderhose – Doença do Tecido Conjuntivo (nos pés) e de Duputyren |
Os riscos modificáveis da Doença de Peyronie incluem os cuidados pessoais em relação às doenças sexualmente transmissíveis, à necessidade de sondagem vesical ou não, à aceitação de procedimentos como a ressecção transuretral da próstata. A prostatectomia radical (para tratamento do Câncer de Próstata), também está associada a aumento do risco para a Doença de Peyronie, com 15% de incidência observada após essa cirurgia.
O tabagismo também está implicado na etiologia dessa condição, mas não está claro ainda se há relação com a quantidade de cigarros utilizados. O mesmo risco está relatado quando as parceiras possuem doenças inflamatórias pélvicas.
O hipogonadismo (baixa de testosterona) também é um possível fator de risco para a DP. Um estudo recente sugere alta prevalência (74%) de Hipogonadismo em homens com DP além de curvaturas mais intensas. Uma possível explicação é o fato da testosterona e dos andrógenos adrenais modularem a matriz de mataloproteinases, que são importantes para o processo de cicatrização.
Além disso, a Disfunção Erétil é observada em 32% dos homens com Doença de Peyronie. Ainda não está claro, contudo, se os problemas de ereção surgem antes ou concomitantemente à DP.
Existem também fatores genéticos envolvidos e inúmeros estudo científicos tem conseguido mostrar essa correlação. Um exemplo prático sobre isso, evitando-se muitos dados técnicos, pode ser descrito com a Doença de Dupuytren, uma alteração inflamatória fibrótica que ocorre na palma da mão e que ocorre em associação com a Doença de Peyronie em até 21% dos pacientes. Se separarmos os pacientes com herança genética autossômica dominante para a Doença de Duputyren, a associação com DP chega a 78%. Do mesmo modo, histórico familiar de DP aumenta o risco dos familiares de 1o grau.
No passado, o tratamento conservador foi frequentemente recomendado, especialmente nos casos em que a doença não está totalmente estabilizada, essa conduta, porém, está em desuso com o surgimento de tratamentos pouco invasivos, mais eficientes e regenerativos.
Medicamentos orais, como a vitamina E e o potaba, foram utilizados com a esperança de reduzir a inflamação e a formação de placas, embora os resultados sejam variáveis e muitas vezes pouco conclusivos. Injeções intralesionais de agentes como verapamil ou interferon também são uma opção. Esses tratamentos visam quebrar o tecido fibroso ou impedir o crescimento da placa. O verapamil, por exemplo, é um bloqueador dos canais de cálcio que tem mostrado algum sucesso na redução da curvatura peniana e na diminuição da dor.
Além disso, a terapia por ondas de choque de baixa intensidade tem emergido como uma alternativa promissora. Este método não invasivo utiliza ondas acústicas para promover a regeneração dos tecidos e melhorar a circulação sanguínea, o que pode ajudar na redução da placa fibrosa. Embora os estudos ainda estejam em andamento, os resultados preliminares indicam uma melhoria na função erétil e na redução da dor para alguns pacientes. Ainda não há evidências relevantes ou insigths que indiquem a regeneração tecidual na Doença de Peyronie.
O Canabidiol também pode ter papel no tratamento da fase aguda da Doença de Peyronie.
Para casos mais severos ou quando os tratamentos menos invasivos falham em proporcionar alívio significativo, a cirurgia pode ser considerada. Existem diferentes técnicas cirúrgicas disponíveis, dependendo da extensão e localização da curvatura. A plicatura peniana, por exemplo, é uma técnica que envolve a remoção ou o encurtamento de parte do tecido do lado oposto à curvatura para endireitar o pênis. Outra opção é a incisão ou excisão da placa, seguida pela colocação de um enxerto de tecido, que pode ser necessário para corrigir deformidades mais significativas.
É importante notar que a escolha do tratamento deve ser cuidadosamente considerada pelo médico e pelo paciente, levando em conta a gravidade dos sintomas, a evolução da doença e as expectativas do paciente em relação aos resultados. A comunicação aberta sobre os benefícios e riscos de cada opção é essencial para alcançar o melhor resultado possível.
Em conclusão, embora a Doença de Peyronie possa ser uma condição desafiadora e muitas vezes desconfortável, os avanços nos tratamentos oferecem esperança para os afetados. Desde opções de tratamento menos invasivas até intervenções cirúrgicas mais complexas, a gama de possibilidades permite que os pacientes encontrem uma solução que melhor se adapte às suas necessidades específicas.
Como a Doença de Peyronie surge e como Evolui?
Apesar de sua descrição ter sido feita há mais de 250 anos, somente recentemente sua história natural foi estudada em detalhe.
Um dos primeiros grupos que estudaram a DP relataram na década de 70 resolução espontânea em 50% dos pacientes. Essa alta taxa de resolução, contudo, não foi confirmada em estudo maiores e mais recentes. Atualmente é relatado 13% de resolução espontânea, 47% de estabilização e 40% de piora do quadro ao longo do tempo. Quanto mais jovem o paciente, maior a taxa de resolução espontânea.
Apesar da Doença de Peyronie ser mais frequente em homens com cerca de 60 anos, há casos relatados em jovens com até 21 anos.
Perda subjetiva de comprimento peniano é relatado em 84% dos pacientes na fase crônica.
Em pacientes mais jovens é preciso diferenciar a Doença de Peyronie das Curvaturas Congênitas, que não possuem placa nos corpos cavernosos. Nas curvaturas congênitas, a curvatura ventral predomina, ao passo que na Doença de Peyronie, as curvaturas dorsais e laterais são a regra.
A história natural da Doença de Peyronie é dividida nas fases Aguda e Crônica. A fase aguda é caracterizada pela progressão da deformidade peniana e frequentemente se associa a dor durante as ereções ou durante a fase flácida. A fase aguda dura entre 6 e 18 meses. Em contraste, a fase crônica é definida pela estabilidade da deformidade peniana por um período mínimo de 3 meses, nesse momento a dor melhora muito ou desapareceu.
Como é feita a avaliação da Doença de Peyronie?
Tudo começa com uma história detalhada seguida do exame físico dos pacientes. O momento exato do início dos sintomas, incluindo história de potenciais fatores desencadeantes ou de risco devem ser investigados.
Como a DP pode interferir negativamente na estabilidade psicossocial e nos relacionamentos, também é importante colher informações com respeito ao humor e o status dos relacionamentos pessoais e sociais.
O exame físico deve ser feito durante a fase flácida e, se possível (ereção fármaco-induzida), também durante a fase ereta, quando a curvatura pode ser objetivamente avaliada.
A ultrassonografia dos corpos cavernosos após ereção fármaco-induzida é preferida para a determinação do tamanho da placa, sua calcificação e grau de deformidade em relação à fotografias ou ereções induzidas por bombas à vácuo.
Exames laboratoriais não desnecessários para avaliação da doença em si, mas se considerarmos os possíveis fatores de risco como doenças cardiovasculares, diabetes, doenças auto-imunes e hipogonadismo, alguns estudos devem ser solicitados para orientação do tratamento e prevenção de novas placas.
Outros estudos de imagem (exceto pelo doppler cavernoso) ou laboratoriais são extremamente controversos e não impactam no processo de diagnóstico da Doença de Peyronie.
Qual o tratamento mais recente para a Doença de Peyronie?
Recentemente, os avanços na compreensão da patologia subjacente à doença de Peyronie abriram novas possibilidades para tratamentos mais eficazes. Estudos recentes têm explorado o papel do sistema imunológico e da inflamação na formação das placas fibrosas. A pesquisa sugere que uma resposta imunológica exagerada a um trauma no pênis pode levar ao desenvolvimento excessivo de tecido fibroso, resultando nas características deformidades penianas.
Além disso, a investigação genética também tem oferecido insights valiosos. Alguns estudos identificaram possíveis predisposições genéticas que podem aumentar o risco de um indivíduo desenvolver a doença de Peyronie. Essas descobertas são cruciais, pois podem levar ao desenvolvimento de estratégias de prevenção personalizadas e tratamentos mais direcionados baseados no perfil genético do paciente.
No campo dos tratamentos, a terapia com ondas de choque de baixa intensidade tem emergido como uma opção promissora. Este método não invasivo utiliza ondas de choque para promover a regeneração do tecido e reduzir a fibrose. Os resultados preliminares mostram que essa técnica pode melhorar a função erétil e reduzir a curvatura do pênis, proporcionando alívio significativo para muitos pacientes. Embora mais pesquisas sejam necessárias para otimizar os protocolos de tratamento e confirmar a eficácia a longo prazo, os resultados atuais são encorajadores.
O uso de injeções intraplaca de agentes como a colagenase, que é uma enzima capaz de quebrar o colágeno, o principal componente das placas fibrosas, tem sido paulatinamente substituida por injeções mais eficientes, com menor número de aplicações e com menos efeitos adversos.
Nesse sentido, tratamento mais recente e com bons resultados naqueles pacientes que respondem, trata-se de alguma forma de terapia regenerativa, sendo a mais utilizada a aplicação de ácido hialurônico dentro da placa em associação ao uso de extensor e medicamentos para reforçar as ereções. Os resultados são semelhantes ou até superiores ao tratamento com a colagenase, que pode trazer um índice de complicações pouco aceitável.
As terapias regenerativas intra-placa, podem ser feitas tanto na fase aguda quanto na fase crônica da doença e podem recuperar até 60% da deformidade, podem ajudar na recuperação das ereções e evitar a progressão da doença.
No Instituto Peyronie, desenvolvemos uma abordagem própria para a Doença de Peyronie, chamada Abordagem STEP. Assista o vídeo abaixo para entender a metodologia e mudar sua visão sobre o tratamento das curvaturas peniana.