Uma Alternativa no Tratamento da Ejaculação Precoce
A ejaculação precoce (EP) é uma condição que afeta milhões de homens em todo o mundo, causando impacto significativo na qualidade de vida, autoestima e satisfação sexual. Apesar de sua alta prevalência, muitas vezes a EP é subdiagnosticada e subtratada devido ao estigma associado. No entanto, nos últimos anos, os avanços na medicina sexual trouxeram novas opções terapêuticas para aqueles que não respondem aos tratamentos convencionais. Entre elas, a injeção de ácido hialurônico (HA) na glande peniana tem se destacado como uma solução promissora, segura e eficaz. Este artigo explora em detalhes os achados de um estudo recente publicado no The Journal of Sexual Medicine, que analisou o uso do HA para o tratamento da EP, oferecendo insights valiosos sobre a eficácia, segurança e benefícios desse procedimento.
O que é a ejaculação precoce?
A ejaculação precoce é uma disfunção sexual caracterizada pela incapacidade persistente ou recorrente de controlar o reflexo ejaculatório, resultando em ejaculação que ocorre antes ou logo após a penetração vaginal. Segundo a International Society for Sexual Medicine, a EP pode ser dividida em duas categorias:
- EP primária ou de toda a visa: presente desde a primeira experiência sexual.
- EP secundária ou adquirida: desenvolve-se em algum momento da vida, muitas vezes associada a fatores psicológicos ou condições médicas, como prostatite ou disfunção erétil.
O tempo médio de latência ejaculatória intravaginal (IELT, do inglês Intravaginal Ejaculation Latency Time) em homens com EP é inferior a 1 minuto, em comparação com uma média de 3 a 7 minutos na população geral. Essa condição pode levar a problemas emocionais, frustração no relacionamento e até mesmo ansiedade de desempenho.
Por que o ácido hialurônico é usado no tratamento da EP?
O ácido hialurônico é uma substância naturalmente presente no corpo humano, particularmente no tecido conjuntivo, pele e articulações. É amplamente utilizado na medicina estética e regenerativa devido à sua capacidade de reter água, melhorar a elasticidade dos tecidos e promover a regeneração celular. No contexto da EP, a injeção de HA na glande peniana é projetada para criar uma barreira mecânica que reduz a sensibilidade, ajudando a retardar o reflexo ejaculatório.
Como funciona o tratamento?
A injeção de HA na glande peniana é realizada em ambiente ambulatorial, sob anestesia local. Duas técnicas principais são usadas:
- Técnica em leque (fan technique): o HA é injetado em cinco pontos distribuídos ao longo da glande, criando uma camada uniforme que reduz a sensibilidade.
- Técnica de múltiplas punções: pequenos volumes de HA são injetados em vários pontos ao redor do sulco coronal, com distribuição cuidadosa para evitar áreas sensíveis, como a abertura uretral.
Essas técnicas são projetadas para manter a aparência natural da glande e minimizar o risco de complicações. O procedimento leva cerca de 30 minutos, e os pacientes geralmente podem retornar às atividades normais no mesmo dia.
Resultados clínicos e benefícios
Uma meta-análise recente, que incluiu 13 estudos envolvendo 706 pacientes, destacou os benefícios do tratamento com HA para a EP. Os principais achados incluem:
- Aumento significativo no IELT:
- No primeiro mês após o tratamento, o IELT médio aumentou em 176 segundos (de ~40 segundos para ~216 segundos), representando uma melhora substancial na capacidade de controlar a ejaculação.
- Após seis meses, o IELT manteve-se elevado em 144 segundos acima do valor basal (de ~40 segundos para ~184 segundos).
- Expansão da circunferência da glande:
- Houve um aumento médio de 1,5 cm na circunferência da glande, um benefício estético adicional que pode melhorar a confiança dos pacientes.
- Comparação com outros tratamentos:
- Em comparação com a dapoxetina, um inibidor seletivo da recaptação de serotonina amplamente usado para tratar EP, o HA apresentou resultados superiores. Enquanto a dapoxetina aumentou o IELT em ~108 segundos, o HA resultou em um aumento de ~176 segundos no primeiro mês.
- O HA também apresentou menor taxa de efeitos colaterais e maior adesão ao tratamento, tornando-o uma opção preferível para muitos pacientes.
- Melhora na satisfação sexual:
- Tanto os pacientes quanto seus parceiros relataram maior satisfação sexual após o tratamento, destacando o impacto positivo do HA na qualidade de vida dos indivíduos.
Perfil de segurança
Os efeitos colaterais associados ao uso de HA foram mínimos e geralmente transitórios. Entre os 706 pacientes analisados, apenas 15,2% relataram algum tipo de efeito adverso, sendo os mais comuns:
- Dor leve no local da injeção (7,7%).
- Formação de nódulos ou bolhas (4,2%).
- Pequenos hematomas (3,3%).
Esses eventos adversos foram resolvidos espontaneamente, sem necessidade de intervenção médica adicional.
Mecanismo de ação
Embora o mecanismo exato pelo qual o HA prolonga o IELT ainda não seja completamente compreendido, acredita-se que ele atue como uma barreira física que reduz a estimulação tátil na glande. Isso diminui a resposta dos receptores sensoriais e retarda o reflexo ejaculatório. Além disso, a presença de HA pode aumentar a pressão e o atrito no pênis durante a relação sexual, contribuindo ainda mais para o controle ejaculatório.
Comparação com outros tratamentos
Além da dapoxetina, outros tratamentos para a EP incluem:
- Anestésicos tópicos: funcionam reduzindo a sensibilidade da glande, mas podem causar efeitos colaterais, como dormência no parceiro.
- Terapia comportamental: inclui técnicas como o método de compressão e a pausa/retorno, que exigem comprometimento significativo e podem não ser eficazes para todos os pacientes.
- Neurectomia dorsal seletiva: um procedimento cirúrgico que remove seletivamente nervos dorsais do pênis para reduzir a sensibilidade, mas é mais invasivo e tem maior risco de complicações.
Comparado a essas opções, o HA oferece uma solução menos invasiva, com resultados duradouros e poucos efeitos colaterais.
Benefícios psicológicos e sociais
Além dos benefícios físicos, o tratamento com HA tem um impacto positivo na saúde emocional dos pacientes. Muitos relataram maior confiança e autoestima após o procedimento, o que se traduz em melhor qualidade de vida e maior satisfação nos relacionamentos. Parceiros dos pacientes também relataram maior satisfação, destacando o impacto do tratamento na dinâmica do casal.
Considerações finais
A injeção de ácido hialurônico na glande peniana representa um avanço significativo no tratamento da ejaculação precoce, oferecendo uma solução eficaz, segura e de longa duração. Com um aumento médio de 176 segundos no IELT no primeiro mês e melhorias duradouras ao longo de seis meses, o HA demonstra ser uma alternativa superior a muitos tratamentos tradicionais. Além disso, seu perfil de segurança favorável e os benefícios estéticos adicionais tornam-no uma escolha atraente para pacientes que buscam uma solução prática e minimamente invasiva para a EP.
Embora os resultados sejam promissores, é essencial que o procedimento seja realizado por profissionais qualificados, e que os pacientes sejam cuidadosamente avaliados para garantir a eficácia e minimizar os riscos. À medida que mais estudos forem realizados, espera-se que o HA se torne uma parte integral das diretrizes clínicas para o tratamento da ejaculação precoce, oferecendo uma nova esperança para milhões de homens em todo o mundo.