Um dos principais questionamentos dos pacientes quanto ao tratamento com cirurgia da Doença de Peyronie. A resposta não é simples, mas certamente é um dos tratamentos com o maior índices de complicações em urologia.
Pacientes com Doença de Peyronie possuem diagnósticos muito distintos de suas condições que podem estar em fase aguda ou crônica, podem apresentar disfunção erétil associada ou não e podem ter deformidades complexas, que cursam com uma maior possibilidade de complicações apenas por existirem.
As principais complicações, contudo, não são desastrosas, já que os quadros de infecção são intensamente prevenidos durante todo o processo de tratamento e as complicações de glande que deformam o local são cada vez mais raras em decorrência de cuidados com a técnica, com o uso de medicamentos para prevenção pelo paciente e pelos cuidados locais.
Ainda assim, um caso considerado simples de correção cursa com 5% a 15% de complicações, que vão desde hematomas, pequenas deiscências de pele (necrose no local da incisão) e dores até hiper ou hipo-sensibilidades que demoram a melhorar ou necroses superficiais distais da glande. Essa última muito incomoda, mas que se resolve com muita paciência e cuidados locais.
Nessas situações o paciente precisa estar ciente de que o período regular de recuperação estimado em 40 dias pode se estender para 60 ou mesmo 90 dias, mas com recuperação adequada ao final do período.
Casos mais complexos, contudo, podem ter um índice de complicações maior. Pacientes com Doença de Peyronie e curvaturas superiores a 7O graus, deformidades complexas com placas ventrais, estreitamentos em ampulheta, perda de volume, afinamentos, podem apresentar de 30% a 40% de complicações e períodos de recuperação tão longos quanto 120 dias.
Uma questão relevante a saber é que muitas dessas deformidades complexas ou curvaturas acentuadas não são diagnosticadas pelo exame físico ou pelo estudo de doppler peniano, sendo reconhecidas apenas no intraoperatório. Pacientes com perda mesmo parcial das ereções por outras causas, por exemplo, podem ter deformidades muito mais dramáticas do que a relatada ou documentada, já que a falta de rigidez não permite que a deformidade apareça.
Apesar dessas características, a cirurgia para correção da Doença de Peyronie vale a pena por se tratar de uma opção definitiva para recuperação de tamanho, espessura e função do genital masculino, com a esmagadora maioria das complicações não demandando procedimentos complexos, mas muita paciência e cuidados locais.
O maior inimigo da recuperação de uma complicação de tratamento cirúrgico da Doença de Peyronie é a ansiedade. Nessa situação o médico assistente precisa ser assertivo em manter a conduta inicial, os cuidados locais e trazer verdadeira e real esperança de recuperação ao paciente. Condutas intempestivas e apressadas que levem a novas manipulações locais são raramente aceitáveis e podem, piorar, retardar ou comprometer o processo de recuperação dos pacientes.
São muito raros os casos de necessidade de retirada da prótese, que em geral ocorre por infecção bem documentada do sitio operatório e, mesmo nesses casos, um protocolo de salvamento com reinserção imediata de uma nova prótese deve ser feita, evitando-se que o sítio da reconstrução fique sem sustentação e cause consequências futuras ainda mais relevantes ao paciente. Os protocolos de salvamento conseguem recuperar 50% dos casos de infecção que não responderam à antibioticoterapia endovenosa de amplo espectro, a primeira opção na suspeita de infecção. Sempre que uma prótese não for imediatamente reinstalada, o paciente deverá ser colocado em um programa de bomba a vácuo com programação precoce de uma nova instalação de prótese.
A infecção do sitio da prótese é um evento cada vez mais raro que cursa com sinais subclínicos, pouca dor, ausência de febre, mas que geralmente acontece de forma inequívoca quando há exposição do dispositivo. Nesses casos uma reinserção imediata não é possível. Necroses da incisão ou mesmo necroses graves de glande, por outro lado, não justificam por si a retirada de uma prótese em paciente que realizou tratamento cirúrgico da Doença de Peyronie.
Dessa forma, é preciso saber que o tratamento cirúrgico para a Doença de Peyronie cursa sim com possibilidade de complicações. A esmagadora maioria delas, contudo, necessita apenas de cuidados locais e de paciência para que o caso evolua sem maiores consequências em um período ligeiramente maior ao programado. Nesse momento deve entrar o papel o especialista, orientando o paciente e não cedendo a apelos ou medos que possam causar mais danos do que ajuda.