Doença de Peyronie: Características e Tratamento Clínico
A Doença de Peyronie é caracterizada pela fibrose superficial em forma de placas que causam uma deformidade no pênis, que pode ser ou não ser acompanhada de dor. Em geral o problema surge com maior frequência na 60ª década de vida, com impacto na função sexual, associado a estresse psicológico nos pacientes e em suas parceiras. Antigamente considerada uma condição rara, atualmente a Doença de Peyronie possui prevalência relatada superior a 13% dos homens adultos.
Tratamento Clínico da Doença de Peyronie
O tratamento da Doença de Peyronie (DP) utiliza muitas ferramentas que incluem terapias cirúrgicas e clínicas, além de técnicas que poderíamos chamar de mecânicas.
Dentre o grande leque de opções, pode ser indicado apenas observação, administração de medicamentos orais, tópicos ou intra-lesionais, terapias que tentam destruir a placa ou desorganizá-la e cirurgia.
Aconselhamento e observação podem ser importantes para homens com pequena curvatura e baixo impacto em suas vidas sexuais, mas muitos outros precisarão de ao menos uma forma de tratamento clínico ou não cirúrgico.
Uso de Medicamentos Sistêmicos
Há inumeráveis drogas para o tratamento da Doença de Peyronie e que atuam com mais consistência na fase aguda do problema, quando a placa e a curvatura ainda não estão estáveis.
Como a maioria dos medicamentos não possuem efeito comprovado cientificamente, separei os tratamentos que possuem estudos realizados em seres humanos e que podem ser utilizados com um mínimo de evidência científica.
Procarbazina (Natulanar)
Foi historicamente utilizado para tratamento da DP, mas não se mostrou eficaz em melhorar a curvatura ou em melhorar a placa. Efeitos adversos incluem sintomas gastrointestinais, dores de cabeça e ansiedade.
Vitamina E
Existem múltiplos estudos que avaliaram o uso da Vitamina E para o tratamento da DP. Há base teórica para sua utilização, mas não existem evidências consistentes que comprovem seus benefícios. Um único estudo mostrou alguma melhora da curvatura com o uso de vitamina E em associação com litotripsia extracorpórea. Vale a pena lembrar que o uso excessivo desta vitamina pode provocar eventos cardiovasculares indesejados e até perigosos.
Tamoxifeno
Esta droga atua modulando fatores inflamatórios e sua primeira utilização ocorreu em 1992 em um pequeno grupo de pacientes com Peyronie, demonstrando melhora da dor, da deformidade e do tamanho da placa. Estudos subsequentes, contudo, não conseguiram demonstrar esse benefício e os guidelines europeus de urologia passaram a não recomendar essa droga no tratamento da DP.
Ômega 3
O Ômega 3 foi incluído recentemente no tratamento da DP, mas os estudos atuais não conseguiram demonstrar diferenças entre os grupos com o medicamento e o placebo.
Coenzima Q10
O mesmo ocorreu em relação aos grupos com medicamento e com o placebo: sem diferenças.
Colchicina
A Colchicina diminui a deposição de colágeno e fragmentação elástica em modelos com ratos. Estudo recente falhou em demonstrar benefício do uso da colchicina em relação ao placebo em humanos.
Para-aminobenzoato Potássico (Potaba)
Essa droga pode possuir efeitos anti-inflamatórios e antioxidantes e foi primeiramente utilizada no tratamento da DP em 1959. Recentemente, alguns estudos comprovaram a utilidade de 500mg de Potaba em diminuir o tamanho da placa com uso superior a 6 meses. A curvatura não diminui com o seu uso, mas os pacientes conseguem ter a doença estabilizada, sem progressão.
Tratamentos Transdérmicos e Intra-lesionais
Verapamil
Foi estudado via injeções no interior da placa com ou sem associação com Dexametasona e também na forma de gel tópico. Existem muitos estudos que comprovam e muitos que não corroboram o tratamento. Atualmente, a Associação Europeia de Urologia estabeleceu que a aplicação intra-lesional pode ser utilizada com possíveis benefícios.
Interferon
A Associação Europeia de Urologia estabeleceu que a aplicação intra-lesional de IFN alfa2B pode ser utilizada com possíveis benefícios.
(EAU guidelines on penile curvature. Hatzimouratidis K, Eardley I, Giuliano F, Hatzichristou D, Moncada I, Salonia A, Vardi Y, Wespes E, European Association of Urology Eur Urol. 2012 Sep; 62(3):543-52.)
Dissolução da Placa – Produto Comercial Sintético e Injetável
Tratamento com resultados comprovados e utilizado para curvaturas leves ou moderadas com melhora de cerca de 50% da curvatura em casos com resposta positiva. Possui alto custo (2 mil USD por cada aplicação de uma série padrão com 6 aplicações) e não está disponível no Brasil. Atua estabilizando ou diminuindo o tamanho da placa e diminuindo o grau das curvaturas.
Terapias Mecânicas e Outras Não Cirúrgicas para a Doença de Peyronie
Litotripsia (LECO)
Não há estudos de grande qualidade que suportam o uso de LECO para a DP, mas há outros estudos menos poderosos que mostram benefícios relevantes no tratamento da dor na fase aguda, aliviando-a e diminuindo o tempo de maturação da placa. Não está claro, contudo, se os microtraumas provocados pela LECO poderão desencadear novas placas, portanto, precisa ser realizada em protocolo especificamente desenvolvido para isso.
Tração Peniana
Dois estudos revelaram que a tração peniana por 2-8 horas por dia pode melhorar a curvatura peniana de pacientes com Peyronie. Esses estudos, contudo, são muito pequenos (com apenas 10 e 15 pacientes respectivamente) e sem grupos com controles.
Mais recentemente, alguns autores também demonstraram algum benefício da tração quando realizada por mais de 6 horas por dia por mais de 6 meses, inclusive com ganhos discretos de comprimento em homens que utilizaram o dispositivo por 18 meses consecutivos. Novos estudos precisam surgir para entendermos sua real utilidade, mas como os efeitos adversos do tratamento são mínimos, a tração pode ser utilizada por quem assim desejar.
Hipertermia Tópica
Estudos iniciais revelam benefício, mas o mecanismo de ação não é conhecido. Outros estudos precisam corroborar o uso.